19 de outubro de 2010

O manejo da caatinga

Foto: Edilton Araújo



Por Ricardo Braga (*)

A caatinga é o único bioma exclusivamente nordestino, não ocorrendo em qualquer outro lugar do mundo. Isso significa que, se não cuidarmos dela, dificilmente outros cuidarão. A partir de estudos mais recentes, tem-se evidenciada a sua importância em biodiversidade, não se constituindo meramente em uma uniforme “mata branca”, mas de múltiplos ecossistemas e fisionomias vegetacionais, que guardam espécies endêmicas e muitas delas ameaçadas de extinção.

Mas, desde muito tempo, a vegetação de caatinga é conhecida do sertanejo, sendo sua companheira e auxiliar na sobrevivência no semiárido, produzindo alimentos, forragem para o gado, produtos madeireiros e disponibilizando uma vital fonte energética, tanto para consumo doméstico quanto para atividades produtivas.

Mesmo diante do entendimento mais amplo da sua importância, as pressões que a levam à destruição continuam a ocorrer. São os fornos das olarias, casas de farinha, padarias, churrascarias e calcinadoras de gesso, essas na região do Araripe. O consumo de lenha e carvão continua a ter predominante participação na matriz energética do semiárido nordestino. Para mudar esta base energética, será preciso disponibilizar novas fontes de energia, necessariamente mais limpas e que, ao mesmo tempo, não sejam socialmente excludentes.


A vegetação de caatinga tem um porte geralmente baixo e apresenta enorme capacidade de rebrotar quando cortados e reagem rapidamente às primeiras chuvas


Porém, quando se pensa em exploração florestal, para fins energéticos ou não, tem-se uma profunda desconfiança sobre os seus resultados ambientais, nada sustentáveis. Motivos não faltam para essa descrença. Primeiro, o Brasil não tem tradição de manejo florestal de vegetação nativa, sendo comuns o desmate e a imediata substituição do uso da terra, sem possibilitar a recomposição da vegetação original. Segundo, as experiências vindas da Amazônia e da Mata Atlântica ou são muito incipientes ou foram negativas.

Assim, é preciso vencer essa desconfiança e atuar em bases técnicas seguras e com monitoramento das novas experiências que estão surgindo no semiárido, com manejo de caatinga na região de beneficiamento da gipsita.

A vegetação de caatinga tem um porte geralmente baixo, mas com uma grande quantidade de indivíduos arbóreos, que apresentam enorme capacidade de rebrotar quando cortados e reagem rapidamente às primeiras chuvas. Segundo os especialistas, uma vegetação cortada leva de 9 a 14 anos para voltar ao porte original, inclusive em biomassa. Isso evidencia forte resiliência, ou capacidade de autoafirmação biológica, embora seja esperado um empobrecimento gradativo da biodiversidade se não forem tomados cuidados que minimizem esse efeito adverso.

Por isso, o manejo não deve ser realizado em áreas de preservação e, sim, onde é legalmente aceitável se desmatar para fazer agricultura ou pecuária. Nesse caso, o ganho com o manejo é evidente porque manteria a vegetação de caatinga, mesmo que em processo de explotação.

Além disso, essa vegetação é forte manancial para produtos não madeireiros, como frutos para produção de polpa, geleia, compota, doce, ou mesmo in natura (umbu, caju e murici); para fabrico de artesanato, como aqueles com fibra do caruá, em bolsas, cintos e jogos de mesa; para produção de biojóias, como brincos, colares, pulseiras, arranjos em sandálias e chaveiros; e ainda, para usos medicinais, como em sabonetes, xaropes naturais, hidratantes e cremes.

O segredo, portanto, é encontrar o ponto de equilíbrio, que leve à sustentabilidade ecológica, econômica e social no bioma caatinga. Isso não exclui sequer o plantio e manejo de árvores exóticas, que também podem ser fonte energética, desde que isso não implique em mais desmatamentos de nativas.
Fonte: JC Online
(*) RICARDO BRAGA é ambientalista, professor da UFPE e ex-secretário executivo de Meio Ambiente de Pernambuco. E-mail: ricardobraga.jc@gmail.com

11 de outubro de 2010

RPPN Pedra do Cachorro é vistoriada para ser o primeiro Posto Avançado na Caatinga em Pernambuco.



A Pedra do Cachorro pode se transformar no primeiro Posto Avançado
da Caatinga no Estado de Pernambuco
O Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga - CERBCAA-PE, encaminhou no dia 26 de fevereiro de 2009, proposta de criação do primeiro Posto Avançado da reserva da Biosfera da Caatinga em Pernambuco à direção do Conselho Nacional da RBCAA. A entidade indicada foi a Reserva Particular do Patrimônio Natural Pedra do Cachorro (foto acima), no município de São Caetano, de propriedade do Senhor Raimundo Guaracy Cardoso. A RPPN Pedra do Cachorro recebeu este titulo em 2001 e desenvolve ações de preservação da natureza, educação ambiental e eco-turismo. A expectativa do Comitê é de que o CNRBCAA conceda o titulo de Posto Avançado, após a visita técnica da Professora Maria de Pompéia Coêlho a Pedra do Cachorro no último dia 07 de outubro (quinta-feira). Postos Avançados (PA) são centros, locais físicos ou instituições, contidos total ou parcialmente dentro do perímetro da RBCA, onde acontecem regularmente pelo menos duas das suas funções:· A proteção da biodiversidade,· O desenvolvimento sustentável, e· O conhecimento científico,servindo como instrumento para a implantação e difusão dos conceitos e princípios da RBCA. Os Postos Avançados da Reserva da Biosfera da Caatinga têm como característica:· Ser um centro ou Instituição, um local ou uma área, contida total ou parcialmente dentro do perímetro da RBCA.· Ser Instituição pública ou privada que desenvolva suas atividades há no mínimo dois anos.· Desenvolver regularmente, pelo menos duas das três funções básicas das Reservas da Biosfera: proteção da biodiversidade, desenvolvimento sustentável, e conhecimento científico.· Ser um instrumento de implantação da Reserva da Biosfera, no qual sejam experimentados e praticados os princípios das RB’s.· Possuir sede física onde serão disponibilizadas informações e documentação sobre a Reserva da Biosfera da Caatinga.
Leia mais em: Reserva Particular do Patrimônio Natural